Uma Praga Silenciosa, Mas Devastadora
A broca-do-caule é um dos insetos mais prejudiciais para diversas culturas em regiões tropicais e subtropicais. Embora haja diferentes espécies conhecidas como “brocas”, a mais comum em muitos sistemas produtivos é a broca-do-caule, que pode afetar milho, cana-de-açúcar, mamão, abacate, frutíferas e mais. Essa praga age a partir do interior dos tecidos vegetais, de modo que sua detecção geralmente é tardia, e seu manejo requer uma estratégia integrada.

Neste artigo, abordamos os aspectos-chave para a identificação, biologia, danos econômicos e as estratégias mais eficazes para seu controle, direcionadas tanto a engenheiros agrônomos quanto a pessoas com interesse em jardinagem ou agricultura sustentável.
Biologia e Ciclo de Vida da Broca-do-Caule
A broca-do-caule não é uma única espécie, mas um conjunto de larvas de lepidópteros (borboletas e mariposas) ou coleópteros (besouros), dependendo da cultura. Por exemplo:
- Em cana-de-açúcar: Diatraea saccharalis (Lepidoptera: Crambidae)
- Em frutíferas e mamão: Carmenta spp. (Lepidoptera: Sesiidae)
- Em abacate e café: Heilipus spp. (Coleoptera: Curculionidae)

Fases do ciclo biológico:
- Ovo: depositado perto das axilas, casca ou no verso das folhas.
- Larva: fase mais destrutiva. A larva penetra caules, frutos ou ramos, alimentando-se internamente.
- Pupa: desenvolve-se dentro do tecido vegetal ou no solo.
- Adulto: borboleta ou besouro, dependendo da espécie. Costumam ser noturnos ou de voo discreto.

O ciclo completo pode durar entre 30 e 60 dias, dependendo do clima, o que permite várias gerações por ano.
Danos Econômicos nas Culturas
A broca-do-caule afeta a produtividade da cultura ao debilitar estruturas vegetais chave e gerar podridões secundárias. Alguns exemplos:
- Milho: debilidade do caule, acamamento de plantas, diminuição do enchimento da espiga.
- Mamão: penetração no caule principal, causando exsudados, podridão interna e morte regressiva.
- Abacate e frutíferas: dano em ramos e frutos, entrada de patógenos fúngicos e bacterianos.

Identificação no Campo: Sintomas e Monitoramento
Dado que as larvas agem internamente, a chave está em observar sinais externos de infestação:
Sintomas Típicos
- Furos em caules, ramos ou frutos.
- Exsudados gomosos ou seiva.
- Serragem ou “pó de madeira” na base dos caules (frass).
- Folhas murchas ou frutos caídos prematuramente.
- Em culturas herbáceas, caules partidos ou colapsados.
Técnicas de Monitoramento
- Inspeção visual semanal durante as etapas críticas da cultura.
- Armadilhas de feromônios para adultos, especialmente em mamão e milho.
- Desfolha seletiva para observar ovos ou larvas incipientes.
Estratégias de Controle da Broca-do-Caule
O manejo eficaz dessa praga requer uma abordagem de Manejo Integrado de Pragas (MIP), que combina medidas preventivas, culturais, biológicas e, se necessário, químicas.
1. Prevenção e Manejo Cultural
- Rotação de culturas com espécies não hospedeiras.
- Eliminação de restos de colheita para evitar ciclos de reinfestação.
- Podas sanitárias em frutíferas e mamão.
- Datas de plantio escalonadas para evitar picos populacionais.
2. Controle Biológico
- Liberação de parasitoides como Trichogramma spp. (contra ovos de lepidópteros).
- Aplicações de Beauveria bassiana ou Metarhizium anisopliae (fungos entomopatogênicos).
- Promoção de inimigos naturais com sebes, flores nectaríferas e cobertura vegetal.
3. Controle Químico (Uso Responsável)
- Apenas quando as populações excederem o nível de dano econômico.
- Uso de produtos seletivos que não afetem inimigos naturais.
- Aplicação direcionada e em horários seguros (amanhecer ou entardecer).
- Evitar o uso repetitivo do mesmo ingrediente ativo para prevenir resistência.

Recomendações por Cultura
Em mamão:
- Inspecionar caules frequentemente.
- Usar armadilhas com feromônio de Carmenta spp..
- Selar feridas com pasta cúprica ou mistura de cinzas com cal.
Em milho:
- Semear variedades resistentes ou tolerantes.
- Monitorar com armadilhas luminosas ou de feromônios.
- Aplicar Bacillus thuringiensis em fases vegetativas.
Em abacate e frutíferas:
- Realizar podas frequentes e eliminar ramos infestados.
- Aplicar armadilhas de feromônios em épocas de brotação.
- Vigiar entradas de pragas mediante monitoramento preventivo.
Conclusão: Ação Precoce e Estratégia Integrada
A broca-do-caule representa uma ameaça séria para muitas culturas se não for detectada e manejada a tempo. A ação precoce baseada no monitoramento constante e a integração de múltiplas estratégias de manejo são chave para evitar perdas econômicas e minimizar o impacto ambiental do controle químico.
Uma agricultura sustentável requer compreender a fundo a biologia da praga e promover inimigos naturais como parte da solução.